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O cinismo do 4º Poder

“Seria uma espécie de censura à imprensa por meio de um projeto que a ala mais radical do partido apelidou de regulação da mídia.”

 

Para Pedro Ekman, do Intervozes, “o entendimento que se começa a ter do problema é que ele não se refere só aos políticos, mas também ao monopólio da comunicação, pois o povo que não se vê representado pelos políticos também não se vê representado pela mídia”.  - Imagem de mobilização da CUT (Central Única dos Trabalhadores)

Para Pedro Ekman, do Intervozes, “o entendimento que se começa a ter do problema é que ele não se refere só aos políticos, mas também ao monopólio da comunicação, pois o povo que não se vê representado pelos políticos também não se vê representado pela mídia”. – Imagem de mobilização da CUT (Central Única dos Trabalhadores)

 

Por Wender Carbonari

 

Se a imprensa é um mercado, o material jornalístico se torna produto. A diferença deste mercado para outros estaria no poder ideológico existente nos veículos de comunicação. Um jornal impresso, por exemplo, pode fazer mais do que vender informações mas, ao mesmo tempo, vender opiniões. Pode, inclusive, defender aquilo que lhe convém e convencer milhares de pessoas que este é o melhor posicionamento a ser seguido. A defesa de ‘si mesmo’ em nome de uma liberdade de expressão que na prática só existe para poucos.

 

É este o tema que o editorial do jornal O Progresso aborda na edição do dia cinco de novembro de 2014. O título vem com um tom sarcástico: “Culpando a imprensa”, sobre declarações da Presidenta Dilma Rousseff em um discurso recente. Mas as bandeiras em favor da democratização da mídia, que deve ser iniciada por uma regulação do setor, não é exclusiva do PT, nem tem a ver com o caso da Petrobras. Mesmo assim, o editorial, que faz coro com tantos outros veículos do país, ataca da seguinte forma:

 

“Fica claro, portanto, que não existe nada de republicano no projeto de regulamentação [talvez aqui queiram dizer ‘regulação’] da mídia brasileira e que essa não passa de mais uma manobra para impor a censura aos veículos de comunicação. Por sorte, o Estado Democrático de Direito está consolidado e o Brasil possui instituições democráticas comprometidas com a liberdade de expressão para se opor a qualquer tentativa de cerceamento do trabalho da imprensa ”.

 

Eu te pergunto, a diversidade ideológica e cultural do Brasil é representada pela mídia? O trabalho feito pela imprensa no Brasil da maneira que se encontra hoje não possui cerceamentos? Os ditadura-da-midiajornalistas são realmente livres de interferências no seu trabalho? Consulte alguns destes profissionais e perceberá que existem balizas no trabalho feito pela imprensa e que estas balizas não são, necessariamente, pautadas no interesse público. A liberdade defendida pelo editorial do jornal de Dourados – assegurada pelo nosso Estado Democrático de Direito – é, primeiramente, a liberdade das grandes EMPRESAS/Veículos de comunicação.

 

A censura também vem de berço, bancada pela incapacidade de muitos de pensarem fora dos parâmetros preestabelecidos. Não foi a toa que cassaram a obrigatoriedade de estudar jornalismo para ser jornalista, mesmo que algumas escolas não promovessem reflexões fora do jornalismo como mercado, como uma empresa ‘igual as outras’. Afinal, não é interesse destes que defendem a tal liberdade de expressão para poucos que aconteça uma reflexão do trabalho da imprensa. O que interessa a eles é justamente a conservação do poder ilimitado aos mesmos de sempre.

 

Se em nosso país é reproduzida a ideia de que os poucos grupos que tem acesso a esta ‘liberdade de expressão’ possuem esta bênção ‘por direito’, é porque os mesmos escolheram ter esta plena liberdade de hegemonia e oligopólios. Eles são os próprios juízes deste debate. A descentralização da mídia não significa uma imprensa acrítica, até porque o relacionamento mercadológico – tanto com setores públicos quanto privados – dos atuais grupo hegemônicos não permitem que a imprensa tenha um posicionamento crítico da realidade, mas acabam sendo porta-vozes dos antagonismos destes mesmos grupos que injetam dinheiro e faz a máquina da imprensa girar.

 

Em meio a tudo isso, observamos as pessoas lendo, assistindo e escutando apenas um lado das histórias e, ao mesmo tempo, acreditando na objetividade, ou mesmo na tal ‘busca’ pela imparcialidade – palavras que são bonitas, mas não passam das ideias assépticas.

 

Sobre este mesmo tema, em um comentário na rede, um internauta chama atenção para o que seria a regulação da mídia como o incentivo a criação de ‘TVs públicas partidárias sustentadas pelo povo’. Mal sabe ele que a maior parte da verba federal destinada à mídia vai para as Organizações Globo – entendes-se esta como um conglomerado de jornais espalhados pelo país, de rádios, de canais de TV e de portais na internet. Ou seja, programas como o Zorra Total também são mantidos – mesmo que parcialmente – com dinheiro ‘do povo’. E vai me dizer que a TV Globo não tem partido?

 

*Jornalista.

 

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As bolas foram trocadas bem na sua frente

agosto 30, 2012 2 comentários

“A democracia é uma forma de governo que prevê a livre discussão, mas que só é atingida se as pessoas pararem de falar.” (Clement Atlee)

Por Wender Carbonari*

Desde quando foi instaurada a democracia no Brasil, de fato, ela não foi efetiva. Já nos primeiros anos de nossa República, a figura do coronel que abusava dos poderes políticos e criava mecanismos para coagir os votos de seus funcionários era comum no país. Faz tempo isso. Se você não matou muitas aulas de história para fumar atrás da quadra, provavelmente deve ter estudado sobre esse período.

Em outras ocasiões, o De Rolé fez críticas a Mato Grosso do Sul afirmando, sem muita base e pesquisa, que este é um estado sem leis, ou proveniente da lei da “bala”. Há quem diga que “não, existe um ‘judiciário’ competente aqui”. Este é um blog otimista e sonhador, mas não tão ingênuo.

Na semana passada, o site Mídia Max News divulgou um vídeo no qual mostra o governador do Estado, André Puccinelli (PMDB), fazendo uma “chamada” com os servidores da Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social – Setas – no qual o chefe do executivo estadual, claramente, induz os trabalhadores a dizerem que vão votar nos candidatos que possuem seu apoio.

Tem algumas reportagens bem sacanas sobre isso. Só digitar no Google para achar. No site Campo Grande News, por exemplo, um texto assinado por Nicholas Vasconcelos mostra o quanto é organizado e abrangente o coronelismo do governador. O site não informa, de primeira, o que fez André. O primeiro parágrafo diz assim: “A Justiça Eleitoral decidiu pelo arquivamento de denúncia sobre o vídeo com suposta coação de servidores públicos por parte do governador André Puccinelli (PMDB) durante reunião”.

“Suposta coação” senhor jornalista? As bolas foram trocadas bem na sua frente, querido leitor. A reportagem medíocre e medrosa do principal site de Campo Grande é um exemplo da extensão do poder da principal figura política do Estado. A cobertura fraca sobre um caso sério (para não dizer seríssimo), joga na cara de todos que moram neste Estado que a imprensa “come” na mão de quem está por cima.

Partindo desta situação preocupante, a figura de “4º Poder” ou de “cão de guarda” do interesse público cai por terra. Mais claro: não existe jornalismo em Mato Grosso do Sul. O chefe do Estado dá uma de “coronel” e quase TODOS os veículos de comunicação, coincidentemente, ignoram esse crime ou começam o texto pela defesa.

A Justiça Eleitoral coloca na gaveta o processo. Não é difícil ouvir comentários de que o servidor deve ser fiel ao “patrão”. Sendo assim, eleição no Brasil é uma piada. Não há a possibilidade de construir uma opinião consistente em relação à situação política de uma região com formadores de opinião que tenham opiniões vendidas. O que tem boa imagem, é, simplesmente, aquele que tem maior influência. Candidatos a prefeitos e vereadores não se preocupam em discutir propostas de governo, mas sim com a quantidade de placas vagabundas que vão colocar nos canteiros centrais da cidade.

Se os veículos da Capital (nem todos, mas a maioria) se calaram diante de tal situação, os jornais do interior fizeram exatamente o mesmo. Tem editor chefe de veículo de Dourados que conversa com a boca no pé da orelha do chefe do executivo estadual.

Tudo bem. Vai ter pessoas da imprensa que vai dizer que publicou alguma coisinha no site ou uma reportagenzinha no jornal para se defender. O problema é que o jornalista (principalmente aqueles com mais experiência) tem a “manha” de fazer um texto e um título que chama mais ou menos atenção. A abordagem e as palavras também influenciam o que o leitor vai pensar sobre o fato apresentado. Não se trata de manipulação, exatamente. É um processo constante de escolha durante a elaboração do material.

Em qualquer país dito democrático no mundo, uma atitude desta de André seria capa de todos os jornais. Já passou e isso não foi “capa”, não virou conversa de buteco, não causou revolta na maioria dos cidadãos sul-mato-grossenses. Bem provável que este comentário também não chame a atenção.

Não é de hoje que trocam a prioridade pelo supérfluo. Não é de hoje que escolhem o que vamos pensar como quem escolhe o que vamos comer e o quanto vamos pagar. Não é de hoje que escolhem quem vamos condenar. Não é de hoje que escolhem em quem vamos votar.

*Estudante de Comunicação Social com habilitação em jornalismo.

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